terça-feira, 25 de outubro de 2011

Último encontro


Estávamos sentados frente a frente, mas nossos olhares eram cabisbaixos beirando a timidez que vez ou outra intercalava com o receio.
Era uma sala de espera de consultório. Mas a espera que nos torturava era pior. As frases que ensaiava na mente se contorciam na garganta e ficava por isso mesmo.
As vezes aquele silêncio era interrompido por um estalar de dedos, uma antiga mania sua que tinha aprendido. Uma delas.
Aquele ambiente demasiadamente branco era o plano de fundo perfeito para nossa tensão. Nenhum quadro, nenhum jarro com uma flor para eu enganar meu olhar, ou ao menos desviá-lo de vez em  quando.
Passei então a me concentrar na minha respiração e cuidar para que ela não transparecesse o tamanho da minha inquietude.
Você também estava tomado de agonia, era notável pela forma que você tentava disfarçar tocando sua bateria imaginária com as batidas da mão nas coxas e o acompanhar dos pés. Como se eu não te conhecesse tão bem. Já haviam passado mais de cinco anos e eu continuava com essa contraditória sensação : Você era um estranho. Um estranho que eu conhecia como ninguém.
- Senhor Alex dos Santos?
Chamou enfim a recepcionista, quebrando o até aquele momento inquebrável silêncio.
           - Opa!
Você respondeu com um misto de prontidão e espanto enquanto se levantava. Meus olhos, dessa vez não disfarçadamente, te acompanharam até onde conseguiram. E essa foi a última imagem que tive sua até então.
                Muitas vezes lembro desse dia e novamente elaboro possíveis diálogos que poderíamos ter tido. As vezes eu apenas acordo e acho que vou esbarrar contigo na fila do pão. Ou quem sabe, te avistar de longe na estação do metrô. O teu número continua gravado na agenda, seu email favoritado no meu inbox. E ainda assim eu desejo o acaso. Quero te ver com as roupas cotidianas pra saber se você ainda usa aquela camisa xadrez amassada com a manga dobrada pra esconder a mancha de café.

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