Estávamos sentados frente a
frente, mas nossos olhares eram cabisbaixos beirando a timidez que vez ou outra
intercalava com o receio.
Era uma sala de espera de
consultório. Mas a espera que nos torturava era pior. As frases que ensaiava na
mente se contorciam na garganta e ficava por isso mesmo.
As vezes aquele silêncio era
interrompido por um estalar de dedos, uma antiga mania sua que tinha aprendido.
Uma delas.
Aquele ambiente demasiadamente
branco era o plano de fundo perfeito para nossa tensão. Nenhum quadro, nenhum
jarro com uma flor para eu enganar meu olhar, ou ao menos desviá-lo de vez
em quando.
Passei então a me concentrar na
minha respiração e cuidar para que ela não transparecesse o tamanho da minha
inquietude.
Você também estava tomado de
agonia, era notável pela forma que você tentava disfarçar tocando sua bateria
imaginária com as batidas da mão nas coxas e o acompanhar dos pés. Como se eu
não te conhecesse tão bem. Já haviam passado mais de cinco anos e eu continuava
com essa contraditória sensação : Você era um estranho. Um estranho que eu
conhecia como ninguém.
- Senhor Alex dos Santos?
Chamou enfim a recepcionista, quebrando o até aquele momento
inquebrável silêncio.
- Opa!
Você respondeu com um misto de prontidão e espanto enquanto
se levantava. Meus olhos, dessa vez não disfarçadamente, te acompanharam até
onde conseguiram. E essa foi a última imagem que tive sua até então.
Muitas
vezes lembro desse dia e novamente elaboro possíveis diálogos que poderíamos
ter tido. As vezes eu apenas acordo e acho que vou esbarrar contigo na fila do
pão. Ou quem sabe, te avistar de longe na estação do metrô. O teu número
continua gravado na agenda, seu email favoritado no meu inbox. E ainda assim eu
desejo o acaso. Quero te ver com as roupas cotidianas pra saber se você ainda
usa aquela camisa xadrez amassada com a manga dobrada pra esconder a mancha de
café.
O melhor que já li aqui *-*
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